quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Mona - Capítulo 4 - pt 1

A grande porta se fechou atrás deles isolando-os do mundo. Dentro do templo havia uma luz suave e quente. Uma sensação agradável se apoderou de todo o corpo de Mona. Era quase como se estivesse dentro de casa, de volta a Nhagha, em frente ao velho fogo na cozinha de sua casa. Há tanto tempo não pensava em sua família. Lágrimas molharam seus olhos e uma saudade intensa se espalhou por sua mente. Saudades dos irmãos menores e de sua mãe. Saudades principalmente de seu velho pai. Ela se deu conta de que nem mesmo sabia se eles ainda estavam vivos e bem.

A voz suave de Kudria afastou seus pensamentos e a fez voltar à realidade. Haviam parado em frente a uma porta. A jovem alienígena falou.

- Mona, você deve cruzar essa porta sozinha. Vamos esperá-la aqui. Não se preocupe nada de mal vai acontecer a você nem aos seus amigos.
- Você sabe meu nome?
- Sim, sabemos muito sobre você. Estamos esperando há muito tempo por você. Nós precisamos de sua ajuda. Por favor, siga em frente.
- Minha ajuda? Como assim?
- Você saberá de tudo quando atravessar a porta. Por favor, vá.
- Senhorita Mona, acho que é muito perigoso ir sozinha. – disse Jeremias preocupado.
- Ela deve seguir só. – apartou Kudria – mas não se preocupe. Nem ela, nem vocês têm nada a temer.
- Tudo bem Jeremias, vou estar bem.

A sala onde Mona entrou era pequena, pouco mais que um quarto. Estava pobremente mobiliada, apenas duas cadeiras e uma pequena mesa no centro. Em um canto havia uma pequena janela que dava para um pequeno jardim interno. Haviam flores sobre a mesa e um grande jarro com uma árvore num canto.

Parada em frente à janela observando o jardim se encontrava uma mulher humana. Ela estava de costas para a porta mas Mona pode perceber que ela era alta e seu corpo era bem proporcionado. Seus longos cabelos castanhos caiam lisos sobre os seus ombros. Aparentava juventude, mas por algum motivo Mona percebeu que havia nela a sabedoria de muitos anos passados. A mulher não parecia ter se dado conta de que Mona estava ali.

Mona ficou parada junto à porta, aguardando. A silueta da mulher prendia o seu olhar. Havia alguma coisa errada com ela. O ar ao seu redor tremulava fracamente, como se fosse uma imagem holográfica, mas Mona tinha certeza de que a mulher estava ali. Não era uma holografia. O que estaria acontecendo?

Finalmente a mulher se voltou. Sua beleza era calma e suave. Como uma flor. Sua pele era muito branca e contrastava fortemente com os lábios pequenos e vermelhos. Um par de olhos muito azuis se fixaram em Mona. Havia naqueles olhos algo que deixou a jovem incomodada. Uma antiguidade e sabedoria incompatível com a aparente juventude daquela mulher. Ela deu um sorriso, triste e contido.

- Olá Simone, eu estava esperando por você – disse a mulher com uma voz baixa e melodiosa.
- Você me conhece?
- Na verdade, não. Eu gostaria de te conhecer melhor, mas sei de você o suficiente para te pedir ajuda e colocar o futuro de meu povo em suas mãos.
- Quem é você?
- Eu sou Gorgéa.

Mona deu um passo para trás.

- A lua viva! – sussurrou audivelmente.
- Sim, a lua tem o meu nome. – respondeu Gorgéa sorrindo tristemente.
- Mas você não pode ser a mesma Gorgéa. Ela morreu há mais de mil anos.
- Eu não morri. Os hurrus nos viram caindo e lançaram um escudo que diminuiu a velocidade de nossa queda mas apenas isso não teria sido suficiente para evitar que eu morresse. Minha irmã, Marcear, ficou por baixo de meu corpo e recebeu sozinha todo o impacto quando chegamos no chão. Ela morreu por mim. Os hurrus tentaram salvá-la mas não havia mais nada o que fazer. Então eles me resgataram e trouxeram para cá.
- Mas como você pode estar viva depois de tanto tempo?
- Como você já deve ter ouvido falar, existem milhares, milhões de universos coexistindo no vácuo. E em alguns deles o tempo anda de uma forma diferente dos outros.
- Por isso que parece que estou vendo uma imagem sua?
- Sim, eu estou numa espécie de limbo, nem no nosso universo, nem em outro. O tempo para mim está parado, mas eu estou fortemente ligada ao nosso plano, por isso posso estar aqui, sem sofrer a ação do tempo.
- Mas, mesmo assim, eu estou morrendo. Meu tempo está se acabando e por isso preciso de sua ajuda.
- Porque você está morrendo? Se o tempo não passa para você, você deveria viver para sempre.
- Os hurrus são um povo simples e gentil. Eles não possuem grandes avanços em tecnologia, naves, armas e inteligências artificiais como os humanos mas eles possuem um dom.
- Qual?
- Eles podem enxergar outros universos, e viajar por eles. E foi assim que eu fui salva. Eles me trouxeram para um universo paralelo mas, por eu ser humana, não pude completar a jornada até outro universo e por isso fui mantida aqui, viva e ligada ao nosso próprio universo através de um portal. Isso me manteve por mil anos mas agora o portal está se fechando rapidamente e quando ele se fechar eu morrerei.
- Mas está se fechando por quê?
- Os universos não são estáticos, eles se movem, lenta e inexoravelmente, em um movimento pulsante, se aproximando e afastando lentamente ao longo dos milênios. Nossos universos estão chegando a uma distância maior do que o portal pode sustentar.
- Os hurrus não podem mantê-lo aberto? Ou levá-la para outro universo?
- Não podem e eu não o desejo.
- Não? Você quer morrer?
- Simone, eu já vivi um milênio. A maior parte dele presa em um vácuo temporal, sozinha. Eu vi todos aqueles que eu amei sumirem ao longo do tempo, enquanto eu permanecia aqui, para eles uma deusa, uma mãe e uma esperança, para mim, uma mulher presa em uma existência sem presente, nem futuro. Apenas um passado. Um passado que não me traz felicidade.
- Você deve estar me achando uma louca, uma fútil. Eu tenho tudo o que qualquer mulher no universo desejaria e não estou satisfeita, não é? – Gorgéa deu um sorriso triste e continuou em um tom de voz ainda mais baixo, quase um sussurro - A juventude eterna, o amor, não de um homem, mas de todo um povo, o poder de determinar os rumos de toda uma raça. A imortalidade.
- Sabe Simone, mesmo depois de mil anos eu permaneço sendo uma mulher e humana. Eu trago dentro de mim a paixão e o inconformismo que nos caracteriza. Eu não desejava a adoração de um povo, mas apenas o amor de um homem. Eu não queria ser imortal, mas apenas poder viver minha vida, sair por aí, como você mesma fez, mas aqui estou eu, presa entre dois universos. Já chorei muito e pedi muitas vezes para ser libertada dessa prisão, mas eu sei que não podia ser e então aceitei meu destino.
- Eu vi muita coisa ao longo desses séculos de vida. Senti muita dor em meu coração por ver pessoas que eu amei desaparecerem, enquanto eu era mantida aqui, presa para meu próprio bem.
- Mas não apenas eu estou morrendo, os hurrus também estão. E eu preciso de sua ajuda\para salvá-los.
- Por que eles estão morrendo?
- Você deve ter reparado que os hurrus de hoje são diferentes dos que estão pintados nas paredes do templo, não?
- Sim, eu reparei. Eles estão mais parecidos com os humanos, parece que cresceram e – de repente Mona parou e olhou para Gorgéa. – Você teve filhos com os hurrus?
- Sim. Ao longo dos séculos eu gerei filhos para os hurrus. E meus filhos tiveram filhos e meu sangue se espalhou entre o povo hurru, modificando-o. E meus filhos e filhas se tornaram os lideres desse povo. Um filho a cada geração.
- Kudria?
- Sim, Kudriaé minha última filha.
- Mas sem o querer eu os condenei, porque, por minha culpa, os hurrus estão se tornando estéreis. Eu sabia que isso poderia acontecer mas, com toda a prepotência da raça humana, eu ignorei essa possibilidade. Um gene humano, passado por mim e propagado por meus filhos entre os hurrus, ao longo de mil anos, está impedindo que novos hurrus nasçam. Meu povo está morrendo e você pode me ajudar a salvá-los.
- Eu? Como eu posso salvá-los? Nada sei sobre eles?
- Não você, seu ventre.
- Como assim?
- É preciso que você gere um novo hurru. Com um novo gene, que combaterá, ao longo dos anos, a esterilidade que eu provoquei.
- Como assim? Você quer que eu me deite com um deles?
- Na verdade, não. Um óvulo seu será retirado, fecundado e depois inserido em seu útero para que siga o processo normal de gestação.
- Você deve estar brincando.
- É necessário Simone, e será feito. Se você fizer de vontade própria será mais fácil, mas se não, eu vou fazer de qualquer forma.

Um comentário:

Marcus Gamba disse...

Caramba marcio =)
axei seu blog sem querer na Papo de Homem e to adorando essa historia da mona :)

vai continuar???
to curioso! xD

vlw e continua com o bom trabalho.

Cold.