quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Mona - Capítulo 4 - pt 3

Por mais rápido que tenha tentado fazer a manobra os piratas foram mais ainda rápidos e fecharam sua saída. Agora ela tinha três naves piratas à frente e um asteróide às suas costas. Mona armou os mísseis e retirou a tampa de proteção do acionador. Não se entregaria assim tão facilmente. Levaria pelo menos um deles com ela. Sentia medo. Mirou na nave mais à esquerda. Acionou os seus mísseis no mesmo instante que os inimigos. O impacto contra o seu escudo a jogou contra o painel de comando. Sentiu a manopla de comando bater contra o seu peito e ficou sem ar. Olhou para frente e o brilho das explosões a cegou. Tentou respirar, mas parecia que o ar não entrava em seus pulmões. Desmaiou um momento depois de ouvir a plataforma de acoplamento se chocar contra a sua nave. Estava entrando no inferno.

Mona acordou momentos depois com um gemido. O peito doía e a respiração estava difícil. Não tinha certeza de onde estava e do que estava acontecendo. Ao longe ouvia o barulho de ferro contra ferro. Sacudiu a cabeça para tentar clarear as idéias. De repente lembrou-se que sua nave fora atacada e que piratas estavam forçando sua escotilha de acoplamento. Levantou-se rapidamente, mas a dor no peito a jogou de volta à cadeira. A pancada que dera no painel havia sido muito forte. “No mínimo quebrei uma costela” pensou amargamente. O barulho dos piratas continuava. Dentro de instantes eles estariam na sua nave e ela poderia fazer muito pouco contra eles. Fez um novo esforço para se levantar. Caminhou se apoiando nas paredes até o armário de armas e empunhou uma pistola. Pelo menos tentaria resistir.

Um forte estrondo indicou que a escotilha havia cedido. Dali a poucos segundos ela estaria face a face com seus captores. Armou a pistola e se preparou para atirar no primeiro que entrasse na cabine. Sentia o suor frio escorrer pelas suas têmporas. A arma pesava em suas mãos. O som de vozes rudes se aproximava cada vez mais da cabine. O primeiro pirata que passou pelo umbral foi atingido em pleno rosto por um tiro certeiro, seu corpo ficou caído impedindo o fechamento da porta. Os outros, ao verem seu companheiro tombar, recuaram e iniciaram uma feroz carga de tiros, destruindo todo o painel de comando. Mona se encolheu em baixo de uma cadeira. Sentia os tiros zunirem à sua volta e o desespero novamente começou a tomar conta. Por uma pequena brecha ela observava a porta, onde o corpo do pirata ainda estava caído.

Depois de algum tempo os tiros cessaram. Mona armou sua pistola novamente e apontou. Aguardou alguns segundos até o primeiro pirata mostrar o rosto. Mona o matou antes mesmo que ele conseguisse saltar sobre o companheiro. Seu corpo rolou pelo chão e parou a poucos metros de onde ela estava. Seus olhos permaneceram abertos, como que olhando diretamente para ela. Mona se agachou mais um pouco dentro do esconderijo e esperou o próximo. Sentia o corpo totalmente retesado, a tensão fazia que ela se agarrasse à coronha da pistola até os nós de seus dedos ficarem brancos de tanta força. Tentou se acalmar um pouco. Estava com muito medo, mas sabia que se quisesse sair desta viva teria que lutar até o final. Observou o rosto do pirata morto. Um rosto rude e cruel. A barba castanha e desgrenhada lhe dava um aspecto animalesco. Seus dentes eram negros e quebrados. Ela reparou nas cicatrizes que lhe sulcavam o rosto e pensou em como ele deve ter sido brutal. Seus olhos eram cruéis, mesmo agora, morto. Mona estremeceu levemente. Não gostaria de cair nas mãos destes tipos. Teria que resistir.

Um grito aterrador a arrancou dos devaneios. Os piratas atacaram de surpresa. Saltaram para dentro da cabine antes que Mona pudesse atirar. Sem conseguir mirar direito ela disparou, mas acertou o pirata apenas de raspão. Enquanto isso um segundo pirata a puxava de dentro de seu esconderijo pela gola de seu colete. Ela tentou correr, mas braços imensamente fortes a agarraram pela cintura. Começou a se debater. O pirata ferido se aproximou e deu-lhe um soco em pleno rosto. A sua cabeça foi jogada para trás, contra o peito do que a agarrava. Sentiu o gosto de sangue. De seu sangue que escorria pela boca. Um novo soco, no estomago lhe tirou todo o ar. Mona tossiu forte e uma golfada de sangue atingiu o pirata que lhe golpeava. Um novo soco, novamente no estomago a pôs em nocaute. Não sentia mais nada. Olhou o rosto do pirata, que ria da sua derrota. Tudo ficou escuro.

E tudo continuava escuro quando recuperou os sentidos. Um cheiro amargo de sujeira e excrementos incomodou suas narinas. Esperou um tempo até as vistas se adaptarem à escuridão do local e sem se mexer começou a olhar em torno. Estava numa cela imunda. Num canto um catre servia de cama. Havia uma pequena janela com grossas barras metálicas. Estava em algum planeta, talvez até mesmo em Fidis. Sentiu um vento frio entrar e se encolheu um pouco mais. Seu rosto doía. Examinou a cela com mais cuidado. Não media mais que quatro metros quadrados. Ela reparou que não havia um reservado, só um buraco num canto, onde teria que fazer suas necessidades. Sentia fome, e muita sede. Gostaria de saber a quantos dias estava trancada ali. Será que Malman tinha recebido alguma de suas mensagens?

Ouviu o som de passos e vozes se aproximando. A porta se abriu com um estrondo. A silhueta de homem enorme se desenhou no chão. Ele deu uma olhada para Mona e falou.

- Ah. A cadelinha acordou. Hamus vai gostar de saber disso. – falou com uma voz rude e grossa.

Bateu a porta e partiu, para voltar alguns instantes depois com um capanga. Violentamente eles a levantaram e a jogaram pelo vão da porta. Mona bateu na parede fronteiriça e caiu no chão, eles a puxaram pelos braços até uma grande sala onde a jogaram no chão, diante da cadeira do maior e mais horrendo homem que já vira. Sua pele era clara e marcada por manchas e cicatrizes. Sua barba loura descia até o peito e parecia suja e cheia de nós. Seus olhos muito azuis eram frios e cruéis. Seus braços eram fortes e cobertos de tatuagens azuis. Quando falou sua voz reverberou por todo o salão, grave e rústica. Sem nenhum sinal de piedade ou de compaixão. Mona se lembrou das histórias contadas pelo padre de Nhagha. Com certeza estava diante do próprio senhor das trevas. Ficou jogada no chão, de cabeça baixa, com medo até de olhar para aquela criatura. Um dos piratas que a havia trazido da cela lhe puxou pelos braços e fez que se ajoelhasse diante daquele homem. Se alguma vez na vida Mona tivera medo do que poderia acontecer, esse momento era agora.

- Professora Simone Lindsor, paleo-alienista da universidade de Luyten. A senhora está um bocado longe de casa. – Mona estremeceu ao ouvir seu nome.
- A senhora matou dois de meus homens, e feriu um terceiro. Não que eu ache que isso é um problema muito grande, eram dois idiotas, mas a gente aqui tem um código que cada homem morto tem que valer uma morte também.

Ao ouvir essas palavras Mona começou a tremer descontroladamente. Que tipo de morte eles estariam preparando para ela? Era apenas uma para vingar dois mortos. Iriam torturá-la antes?

Hamus continuou.

- Mas uma pessoa como a senhora deve valer um bom resgate. Então, eu vou deixar você viver, pelo menos até que o resgate seja pago. – Ele riu, uma risada sacudida e rouca.

- Mas, eu ainda tenho que vingar a morte de meus dois homens. O que eu vou fazer ? - Ele brincava com o medo de Mona, fazendo-a sofrer, e saboreando este sofrimento.

Olhando para o fundo da sala ele gritou.

- Simeão, me traz os dois escravos que a gente pegou ontem.

Dois rapazes foram arrastados até o centro da sala. Seus uniformes de cadetes da ConSortium estavam rasgados em vários pontos. Um deles tinha uma grande mancha de sangue seco na face. O mais velho deles não devia ter mais que vinte ou vinte e um anos.

- Olha bem pra eles, porque esses dois agora vão morrer no seu lugar. Digam seus nomes, idade e patente.

Os rapazes ficaram calados. Uma pancada nas costas jogou o que aparentava ser mais velho no chão e uma voz rosnou. – Responda quando Hamus te perguntar alguma coisa.

- Cadete Ian Flamariom, da força de apoio da ConSortium. Vinte e dois anos.
- Obrigado cadete. E outro?
- ....
- Não ouvi, fale alto.
- Ca- cadete João Augusto, senhor. E tenho dezenove anos. – sua voz tremia. O rapaz estava a ponto de cair no choro, e os piratas se divertiam com isso.
- Bom cadetes, na verdade não tenho nada contra vocês dois, mas nós, piratas, temos um código de honra. Para cada homem morto nós matamos alguém em troca, e a moça a seu lado matou dois de meus homens. Como ela vale mais que vocês, meus homens vão matá-los no lugar dela.

O jovem cadete João começou a chorar. Mona sentia se sentia impotente. Ela não queria ver aquilo, não queria carregar aquelas mortes na consciência. Eram rapazes tão jovens, não mereciam morrer.

A um gesto de Hamus dois piratas avançaram na direção dos rapazes e os fizeram ajoelhar, segurando seus braços para trás. Um outro veio pela frente e, com uma espada nas mãos, golpeou a face do cadete Flamariom, o sangue começou a escorrer pelo corte, manchando o uniforme. Um outro golpe penetrou-lhe o peito, furando o pulmão. O rapaz tentou se desvencilhar e jogou o corpo para o lado quando um golpe final lhe arrancou a cabeça, espalhando sangue pelo salão. O cadete João parou de chorar e, como que aceitando sua sina, esticou o pescoço para o pirata. O gesto não passou despercebido de Hamus , e com um aceno de cabeça ele indicou ao pirata para ser rápido. Um único golpe decepou a cabeça do cadete João, respingando sangue sobre Mona. Os corpos dos cadetes ainda se debatiam, no ultimo vestígio de vida que possuíam. Finalmente pararam. Os rapazes estavam mortos.

Um pirata grande e sujo, com uma atadura no braço esquerdo avançou e falou quase aos berros.

- Hamus , tudo bem que a cadelinha vai valer um dinheiro, mas eu acho que a gente pode, pelo menos se divertir um pouco, né? Deixa ela com a gente. Tem tempo que a gente não tem uma carne nova.
- Há, há, há – Você ainda ta irado pelo tiro, né? Ta bom. E você pode ser o primeiro.


Com um riso selvagem o pirata se adiantou para mona. Ela tentou fugir, mas dois braços a imobilizaram e a jogaram no chão. Mãos fortes apertaram seus seios até ela berrar de dor. Mona se debatia e tentava chutar os piratas, mas eles riam e caçoavam. Ela sentiu arrancarem violentamente suas roupas e, num gesto instintivo, fechou as pernas com o máximo de força que possuía.

Duas tenazes de carnes a agarraram pelos joelhos e a imobilizaram. O pirata com o braço ferido deitou-se sobre seu corpo, impedindo seus movimentos. Ela sentiu uma dor terrível quando ele a penetrou e a feriu, mais na alma que no corpo. Sentiu o roçar da carne contra carne, queimando-lhe as entranhas, despedaçando o seu ser, destruindo sua humanidade. E, quando ele acabou veio outro e mais outro e mais, e mais. Já não sentia mais dor, estava anestesiada, vazia. Ali havia apenas um corpo, sujo, podre, imundo. Um corpo violado, sem vontade e sem vida. Quando acabaram de se divertir os piratas a jogaram de volta na sua cela imunda, agora mais limpa do que ela própria.

Mona vestiu as suas roupas rasgadas e se aninhou no canto mais escuro da cela. Ali ela chorou. E continuou a chorar quando a manhã iluminou a cela, onde agora já não se importava mais em estar.

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Ao longo do dia a porta se abriu por duas vezes, e em ambas um menino entrou, para lhe trazer comida, e depois para levá-la embora ainda intocada. Mona não se moveu durante todo o dia. Encolhida num canto da cela não conseguia parar de pensar no que ocorrera. Via os rapazes morrerem por sua causa. Sentia os golpes da espada, cortando a carne, quebrando os ossos. Ouvia o borbulhar do sangue espirrando pelas veias e artérias. Sentia o cheiro do sangue e do esperma. Ouvia os piratas rindo, se divertindo com seu corpo como se fosse uma boneca de plástico, um objeto de valor e sem vida. Via Hamus em sua grande cadeira, dono da vida e da morte. Lembrava-se do rosto dos outros homens que estavam na sala vendo sua violação. Seus risos ecoavam em sua cabeça. Lembrava-se das poucas mulheres presentes, seus rostos encobertos, seus olhares baixos, elas mesmas tão violentadas quanto a própria Mona. Não pareciam mulheres, mas sim espectros, seres sem vida e sem alma.

Mona não viu quando a tarde caiu e a luz se foi e, no escuro quase total em que se encontrava ouviu os ratos roerem a sua comida. Também não viu a manhã surgir, os raios fracos do sol, filtrados pela pequena janela, avançarem por dentro de sua cela. Novamente o menino entrou, olhou para Mona com tristeza, mas nada falou. Trocou os pratos e partiu. O som das vozes dos piratas lhe chegava aos ouvidos como um ruído distante.

Novamente o menino veio trazendo uma pequena bandeja com comida e água. Ela se alimentou e matou a sede, e com um pouco da água tentou lavar uma parte do sangue que coagulava entre suas pernas. Sentia que tinha marcas roxas por todo o corpo. Passava os dias em um canto da cela, tremendo de pavor a cada som de passos. Mas ninguém veio procurá-la nesse dia, nem nos dias seguintes. A única pessoa que via era o menino, que lhe trazia comida. Os dias demoravam a passar, a falta de notícias e de esperanças a consumiam. No inicio Mona tentou marcar a passagem do tempo, mas depois de quinze dias ela desistiu de contar.

Numa tarde fria, um mês depois de sua captura, a porta se abriu e por ela entrou Hamus, imponente e selvagem. Trazia nas mãos uma arma e Mona pensou com alívio que ele finalmente iria matá-la, mas ele apenas sentou-se no catre, olhou para a jovem e falou.

- Professora, Eu vou partir para um ataque. Não estarei por aqui nos próximos dias. A universidade ainda não respondeu ao pedido de resgate. Vou esperar uma resposta até a minha volta. Se até lá eles não responderem eu vou dar você para Mardonio. Eu dei ordem para ninguém chegar perto, então até minha volta eles não vão fazer nada contigo. Espero que a senhora tenha bons amigos em Luyten, por que senão, eu não me responsabilizo mais.

Hamus esperou uma resposta, mas Mona não respondeu. Então, com um balançar de cabeça abriu a porta e partiu.

Mona pensou horrorizada no futuro que a esperava. Ser entregue como serva de um pirata era pior que ser morta. Era ser torturada e violentada todos os dias enquanto vivesse. Por que Luyten não respondia. Eles sabiam que ela tinha o dinheiro para o resgate, que ela poderia pagar a eles quando voltasse. Estariam querendo puni-la? Será que sua vida valia tão pouco? E Malman? Por que não fazia nada para livrá-la daquele inferno.

Pensou em Nhagha, em quando era uma menina que sonhava tanto em conquistas e viagens, que ouvia maravilhada as histórias de ML e se sonhava no lugar dele. Lembrou-se de seu pai e de seus irmãos, e mais do que tudo, de sua mãe. Queria estar com eles agora. Sentar na varanda do solar e ouvir as canções dos trabalhadores que voltavam dos campos. Essa lembrança lhe trouxe de volta um pouco do que ela era, e a fez sorrir por um instante. Depois a realidade voltou à sua mente e ela se encolheu mais um pouco.

No dia seguinte ela ouviu o som de uma dezena de naves partindo. Os piratas partiam para um novo ataque. A prisão onde se encontrava ficou ainda mais silenciosa, até o som de passos e vozes sumira. HÁ certa hora o menino entrou trazendo a comida. Desta vez ele sentou-se e observou Mona por um tempo. Depois tomou coragem e falou.

- Moça, eu posso fazer alguma coisa pra você? Os piratas foram embora. Se você quiser, eu posso trazer uma coberta para você se aquecer.
- Não quero nada, obrigada.
- Precisa agradecer não.
- Como você se chama? – perguntou Mona.
- Sou Nino, e já tenho dez anos. – respondeu o menino com orgulho.
- Dez anos? Você parece tão pequeno.
- Tenho dez anos sim. Ta me chamando de mentiroso?
- Não, só achei você tão magrinho e pequeno.
- É por isso que me chamam de Nino. Minhas irmãs me chamavam de pequenino, quando a gente morava lá em Fidis.
- Você tem família? Não é filho dos piratas?
- Não. Eu vim pra cá quando era menorzinho. Os piratas atacaram minha vila. Eles mataram meu pai e depois fizeram com minha mãe igual fizeram com você. Mas ela morreu. E eles me trouxeram pra cá.
- Você estava lá? - Perguntou Mona horrorizada.
- Onde, no salão? Tava sim. Eu vi tudo. Eu fiquei no cantinho.
- E suas outras irmãs? O que aconteceu com elas?
- Não sei não. Eles levaram elas e depois eu nunca mais vi nenhuma. – Mona estremeceu ao pensar no que teria acontecido com essas meninas.
- Você pode me ajudar a sair daqui?
- Posso não. Os piratas iam me matar se eu fizesse isso.
- Ta, desculpa.
- Precisa pedir desculpa não moça. Eu sei que você quer sair daqui, mas se eu soltar você eles me matam. Agora tenho que ir, senão o Morrões vai brigar. Tchau
- Tchau Nino.

Mona tentou comer alguma coisa. Depois se deitou no catre e dormiu. Na manhã seguinte sentia-se melhor. Um pouco de esperança havia surgido. Quem sabe aquele menino não poderia ajudá-la a fugir. À tarde Nino trouxe uma coberta junto com a comida. Mona puxou conversa. O menino lhe contou que estavam em ER-1243, um planetóide próximo à estrela de principal da constelação de Vega. Era um planeta recente, onde a terra formagem ainda não tinha sido concluída. Os piratas mataram os colonizadores e tomaram conta do planeta, fazendo dele a sua base de operações. Fora o ambiente era extremamente hostil. As chances de sobrevivência fora da base eram bem pequenas.

Nos dias que se seguiram Mona e Nino conversaram muito. Para um menino com apenas dez anos de idade Nino tinha muito que falar. Pelo que pode compreender ele havia sido raptado de sua aldeia quando os piratas fizeram um ataque surpresa, mataram seus pais e escravizaram suas duas irmãs. Desde então ele vivia neste pequeno mundo, fazendo serviços para os piratas. Levava comida para os presos, recados para os piratas e entre as mulheres escravas que viviam na base. Sobre esse assunto Mona lhe perguntou.

- E essas mulheres? Quem são?
- Ah, elas são escravas que os piratas pegam quando atacam uma aldeia e trazem pra cá. A maioria não dura muito. Só a Gilvana é que já ta a um tempo. O resto morre rápido. Aí eles saem e trazem mais.
- Mas elas, onde moram? Elas ficam com os piratas?
- É, cada um tem umas duas ou três. Só o Hamus é que não tem nenhuma. Ele sempre dá as mulheres pros outros.
- Que estranho. Ele não parece o tipo de homem que tem algum escrúpulo.
- O povo diz que ele prometeu nunca mais ficar com uma mulher depois que a mulher dele morreu. Eu já ouvi as mulheres falando que ele virou pirata por causa disso. Pra se vingar de terem matado a mulher dele.
- Será que tem como eu sair daqui?
- Não tem não. Senão nem eu ficava. Lá fora não dá pra ir, e quando os piratas não estão na base eles levam todas as naves. só ficam as que não podem voar. Que estão com defeito.

Mona passou o dia pensando em como fugir dali. A perspectiva de se tornar mulher de pirata não lhe agradava nem um pouco e os dias estavam passando. Em breve Hamus e sua tropa estariam de volta e seu destino seria decidido.

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Suas conversas com Nino foram aos poucos trazendo a Mona um laivo de esperança. A criança, que tão jovem já havia sofrido tanto, e que apesar disso se agarrava à vida com todas as suas forças, fazia com que Mona refletisse sobre tudo o que já vivera até então. Sim, é verdade que fora violentada de forma vil. Que fora reduzida a menos que o nada, mas estava viva e isso significava muita coisa. Sabia que podia reagir e , quem sabe, fugir deste lugar, levando o pequeno Nino consigo, para dar a ele uma vida um pouco melhor. Mona sentia agora que não poderia ir embora e deixar Nino para trás. O melhor a fazer seria aproveitar a ausência dos piratas e fugir.

No dia seguinte, quando Nino veio trazer a comida, Mona falou;

- Nino, o que você acha de nós dois fugirmos daqui.
- Não dá pra fugir não. Fora da base não tem nada e aqui não tem nenhuma nave pra levar a gente.
- Você me falou que tinham umas naves velhas. Será que não tem nenhuma que consiga levar a gente pelo menos até algum planeta próximo?
- Bom, tem a nave do Morrões, mas ela ta sempre trancada e o cartão fica no casaco dele.
- Isso ! Eu devia ter pensado que esse Morrões tem uma nave.
- Mas o cartão de ativamento fica com ele o tempo todo. Não tem como fazer ela funcionar sem o cartão.
- Então você vai me ajudar a pegar o cartão. – disse Mona confiante.
- Eu ! Eu não. Depois o Hamus me mata.
- Não, você vai comigo. A gente foge daqui junto.
- Não faz isso não moça. Eu não vou fazer nada disso, não. – Respondeu Nino apavorado.

Rapidamente ele pegou a bandeja de comida e saiu da cela, deixando Mona sozinha e pensativa. Temia ter deixado a sua ansiedade colocar tudo a perder. Nos próximos dias Nino mal a olhou, se limitando a colocar e retirar as bandejas. O tempo passava e a qualquer momento Hamus poderia estar de volta. Era necessário fazer alguma coisa rapidamente.
Três dias depois o desespero começou a tomar conta de Mona. Tinha que tomar uma atitude. Essa talvez fosse a melhor oportunidade que ela teria para se libertar. Nessa tarde Mona resolveu romper o silencio de Nino, a qualquer preço.

- Nino, preciso falar com você. – Disse Mona em um tom que não permitia contestação.
- Preciso que você faça uma coisa para mim. Tudo bem que você não queira se envolver, mas me arruma uma faca. Só te peço isso. O resto é comigo.
- Você vai fugir?
- Vou pelo menos tentar. Não vou ser dada como escrava para nenhum pirata. E se você quiser vir comigo, esteja pronto para fugir a qualquer momento. Você faz isso para mim?
- Se eles me pegarem eles me matam.
- Não tem ninguém aqui para te pegar. Diz que vai trocar a coberta e traz a faca escondida dentro dela. Você me traz ela hoje à noite?
- Vou tentar.
- Obrigado, Nino. Nós vamos sair daqui e eu vou levar você para uma casa de verdade. Você vai poder estudar e ter um futuro na vida.
- Ta. Vou tentar. Tchau
- Tchau Nino. Confio em você.

O resto da tarde demorou muito a passar. Os minutos pareciam demorar horas. Finalmente a criança veio trazer o jantar, e encoberta por um livro uma adaga, com uma bela lâmina trabalhada, com inscrições marcadas a fogo e um cabo de metal reluzente. Uma arma de colecionador. A lâmina tinha pelo menos vinte e cinco centímetros de comprimento. Mona a admirou por alguns instantes antes de esconde-la dentro da camisa. Sentia o metal frio contra sua pele e estremeceu ao pensar no que faria mais tarde. Sabia que não podia fraquejar. Não disse nada. apenas olhou bem fundo dentro dos olhos do menino, como se estivesse lendo a sua alma, e depois lhe beijou na testa. O pacto entre eles estava selado. Nessa noite Mona dormiu muito bem. Sabia o que tinha que fazer e estava confiante de que o faria bem.

No dia seguinte Mona agiu como se nada tivesse acontecendo. Depois que Nino partiu com a bandeja de comida, a moça se recostou no catre e aguardou o melhor momento para executar seu plano. No inicio da tarde ela ouviu os passos pesados do seu carcereiro e soube que havia chagado a hora. Chamou-o com a voz mais doce que pode fazer. A adaga parecia queimar nas suas mãos.

- Ei, olá. Será que você poderia me ajudar um instante?
- Que é, dona? Ta precisando de que? – A voz rude do velho pirata lhe doeu nos ouvidos.
- Está muito quente aqui. Você não poderia abrir um pouco o respirador? Eu tentei, mas é muito pesado pra mim. – Disse candidamente.

Nessa hora Mona parecia uma menininha. O pirata se compadeceu da jovem, que lhe parecia tão frágil e só, jogada nessa cela imunda há tanto tempo. Ela lhe lembrava sua neta, e isso era uma lembrança boa que ele tinha da vida. Sem pensar no que poderia acontecer, Morrões abriu a cela e se aproximou. Pensou em falar umas palavras amigas para a menina que estava à sua frente, mas estas ficaram apenas na intenção. Sentiu a adaga penetrando o seu peito de baixo para cima, rasgando a carne e cortando as veias que irrigavam seu coração. Um segundo depois sentiu a ponta da faca picar-lhe o seu órgão mais vital. Sentiu o momento que a menina, num impulso, enfiou a faca mais um pouco dentro do seu corpo, cortando-lhe o miocárdio e penetrando seu ventrículo esquerdo. Imediatamente as forças começaram a lhe faltar e ele viu horrorizado seu sangue esguichar sobre a camisa da sua prisioneira, a mesma moça que lembrava sua neta. Sentiu a visão embaçar e sair de foco. Seus ouvidos retumbavam como se milhares de tambores tocassem dentro de sua cabeça. Tentou falar alguma coisa, mas a voz estava presa na garganta. Tentou andar, agarrar aquela moça e dizer para ela que não precisava ter feito isso, mas já não tinha mais controle sobre o seu próprio corpo. Vinte segundos após a facada o velho Morrões desabava pesadamente no chão da cela. Estava morto.

Mona não parou para pensar muito no que tinha feito. Agora o tempo corria desenfreado. Tinha que achar o cartão da nave, buscar Nino, e partir deste planeta maldito antes que Hamus e sua turma voltassem. Rapidamente vasculhou o corpo. Pegou o cartão, a arma e a chave que lhe abriria as portas até o hangar. Já se voltava para sair da cela quando ouviu um ruído. Nino estava parado sob a soleira, olhando o corpo jogado no chão. Ao seu lado uma mulher muito magra se apoiava nos ombros da criança. Era baixa e muito branca. Possuía grandes olhos amarelados e cabelos castanhos que lhe caiam até a cintura. No instante em que a viu Mona pensou em uma cobra, aquele lendário ser rastejante de quem o padre da aldeia vivia falando. Quando abriu a boca, foi uma voz desagradável e cheia de malicia que soou.

- Pelo jeito a mocinha acha que vai a algum lugar.
- Saia da minha frente, seja você quem for.- respondeu Mona apontando a faca para a estranha mulher.
- Eu sou Gilvana, mulher de Antonius. E pode ficar tranqüila, não vou te atrapalhar. Pode ir se quiser. Só queria te dizer que você não vai muito longe, he, he, he, Hamus já está quase pousando. E ele não vai ficar nem um pouco feliz de ver o que você fez com o tio dele. – A megera deu uma risadinha sarcástica.
- Sai da minha frente. Vamos Nino, temos que correr.
- Mas o Nino não vai a lugar nenhum. O lugar dele é aqui e daqui ele não sai. Se você quiser ir é problema seu, mas ele não vai.
- Nino, vamos comigo. Temos que correr para partir antes do Hamus chegar. Vamos logo.
- Eu não posso. – respondeu chorando. – Eu não posso ir.
- Mas por que?
- Porque EU sou a mãe dele, e EU estou dizendo que ele vai ficar.
- Mas Nino, você me disse que sua mãe estava morta. – Mona estava cada vez mais confusa.
- Ela mandou. Ela disse pra eu contar isso pra você. – a criança agora chorava em prantos.
- É, eu mandei , e você caiu direitinho, né? Eu imaginei que uma doutora como você ia se comover com as historias do menino. Depois foi só fazer ele dizer da nave, arrumar a faca, e tudo pronto. Agora Hamus vai chegar e quando ver seu tio morto ele vai mandar te matar, sem nenhuma pena. Você não imagina o que o Hamus é capaz de fazer quando está zangado. Ele vai mandar arrancar suas pernas e deixar você sangrar até a morte.
- Mas porque você fez isso? Por que você quer que ele me mate? O que eu te fiz?
- Ora mocinha. Desde que você chegou os homens só estão falando de você. E esses piratas podem ser muito valentes no espaço, com uma nave ou com uma arma na mão, mas aqui quem manda somos nós. E eu não pretendo deixar que nenhuma mocinha bonita mande no meu lugar.
- Você é louca. Agora sai da frente. Nino vem comigo. – Mona agarrou a criança pelo braço e a puxou para perto si. Gilvana não disse nada, mas um brilho de maldade reluziu nos seus olhos.
- Aí. - Gemeu a criança.
- Vamos, vamos embora daqui. Para onde fica o hangar?
- Pra esquerda.

Saíram numa corrida desabalada pelos corredores da base, Mona mal percebia que carregava Nino no colo. Finalmente chegaram ao hangar principal. A cúpula já estava aberta, indicando que alguma manobra de pouso estava em andamento. Os piratas chegavam.

- Nino cadê a nave?
- Ali, no canto
- Tô vendo, vamos

Mona ia torcendo para que a nave estivesse pronta para partir. Não teriam muito tempo antes das primeiras naves entrassem pela cúpula e depois que eles chegassem seria ainda mais difícil fugir. Mona passou o cartão de ativamento na ranhura da porta e entraram antes mesmo desta terminar de se abrir. Ela deixou o menino na cabine principal e correu para a cabine de comando, onde ativou a nave e iniciou o procedimento de partida. A nave flutuou um pouco sobre os jatos inferiores e quando alcançou a altitude de vôo Mona ligou os jatos traseiros e apontou para o topo da grande cúpula de metal que cobria a base dos piratas. Transferiu toda a energia possível para os escudos dianteiros e o restante para o motor. Não pretendia atirar em ninguém agora, precisava de velocidade e de proteção. Acionou o propulsor principal e partiu em velocidade máxima, quase se chocando com a primeira nave dos piratas que chegava na base. Viu pelos visores traseiros que diversas naves manobraram e partiram no seu encalço. Transferiu a força dos escudos dianteiros para os traseiros e torceu para que esta velha nave fosse rápida o bastante para fugir.

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Infelizmente a nave não era lá grandes coisas. Mona observou pelo visor traseiro que as naves inimigas se aproximavam cada vez mais. Sabia que com aquela nave só poderia escapar usando mais a astúcia que a força. Era apenas uma, em uma lata velha, contra seis ou sete perseguidores, com naves modernas e armas potentes. Virou-se na cadeira e berrou para Nino.

- Segure-se aí.

Estranhou a falta de resposta, mas não tinha tempo para ir ver se a criança estava bem. Agora tinha que se livrar dos inimigos. Esperou até que os piratas estivessem bem perto e numa manobra arriscada girou a nave, mudando rapidamente de direção, e acionou os propulsores na carga máxima, investindo diretamente contra as naves inimigas. Não esperou a mira travar e acionou o gatilho disparando uma carga de mísseis contra a nave mais à esquerda. O sintetizador fez soar dentro da cabine a simulação do que seria o som da explosão. Seu visor explodiu em uma miríade de cores quando a nave pirata incendiou e de partiu em pedaços. Mona acelerou mais ainda, transferindo toda a carga de escudos para a porção traseira. Sabia que isso era arriscado, mas não via outra opção. As naves inimigas se separaram em duas equipes para tentar cercar Mona. Três naves continuaram a perseguição, atirando contra a nave fugitiva. Mona sentia o impacto dos tiros resvalando no escudo traseiro. As outras duas naves circularam o grande asteróide, na tentativa de cercar Mona, como fizeram na sua captura. Mas Mona não era tão tola a ponto de cair na mesma armadilha duas vezes. Ela rapidamente traçou seus planos e tratou de colocá-los em prática. Girou a nave na direção das duas que estavam próximas ao asteróide e acelerou. Viu satisfeita que as três naves que a perseguiam seguiram seu movimento e permaneceram na sua cola. O alarme tocava ruidosamente, seus escudos estavam no limite. Se a manobra não desse certo só lhe restaria jogar a nave contra o asteróide. Aproximou-se em altíssima velocidade das naves que a esperavam. Sabia que se elas começassem a atirar sua nave não resistiria. no ultimo segundo acionou o gatilho e girou o manche, fazendo a nave rodopiar, numa pirueta. Acionou os retro-foguetes, numa tentativa desesperada de anular a inércia e trocar de direção. Pelo visor lateral viu a nave inimiga se aproximar da sua aleta esquerda e, atrás dela o asteróide. Acionou o propulsor esquerdo em carga máxima e reduziu a carga do propulsor direito. A nave girou sobre o próprio eixo e no instante seguinte Mona jogou carga máxima no propulsor direito, estabilizando a nave e rumando para longe do asteróide. O sintetizador berrou o som de uma explosão próxima. Seus perseguidores se embaralharam numa confusão de naves, fogo e metal retorcido. Pelo menos duas das naves que a perseguiam não conseguiram girar e se chocaram contra as duas que a esperavam. Mas onde estava a última nave? Ela não explodira, Mona tinha certeza de que a vira sair ilesa da explosão. Mona verificava alucinadamente os visores, sensores, radar e não via nem sinal da nave inimiga. Sabia que não estava louca. Que ela tinha que estar em algum lugar, preparando o bote, para feri-la de morte. Por via das dúvidas Mona mudou de direção e seguiu rumo a um planeta visível à distancia. Assim que estivesse longe o suficiente dos corpos celestes que a circulavam mandaria o computador executar uma série de micro-saltos, que a levassem pelo menos há um dia-luz dali. Os músculos dos seus ombros se retesavam como a corda de um arco. Sentia o suor escorrer por suas costas. Balançou a cabeça, na tentativa de aliviar um pouco a tensão, e verificou novamente os visores. Continuava sem sinal da nave pirata.
Mona viajou por mais cerca de duas horas-padrão sem sinal dos seus perseguidores. Dentro de mais algum tempo seria capaz de realizar a série de micro-saltos que a levariam até o portal Vega-Procyon. Refez os cálculos e preparou o piloto-automático para realizar a tarefa. O silêncio de Nino começou a preocupá-la. Deu uma ultima verificada nos visores e, como não viu sinal do inimigo, levantou-se para ir ver como estava o menino. Mona o encontrou jogado no chão da cabine principal. Uma gosma esverdeada escorria-lhe pelo canto da boca. Aproximou-se vagarosamente, e colocou sua cabeça no colo. Um filete de lágrimas escorria dos olhos de Mona. Nino estava morto, abatido pela maldade de sua própria mãe. Uma pequena incisão no braço da criança mostrava onde ela lhe havia envenenado, provavelmente no momento que Mona o puxara para que fugissem.
Como uma mãe podia sacrificar seu próprio filho dessa forma? Será que tudo que é bom no universo tem que ser destruído pela maldade dos seres humanos? Que mal aquela criança havia feito para merecer isso? Encostada na parede da cabine, com a cabeça de Nino no colo, Mona chorou. Chorou por Nino, chorou pelos jovens oficiais que tinha visto serem sacrificados em seu lugar, chorou por tudo que havia acontecido com ela desde que encontrara os piratas há pouco mais de dois meses. Dois meses que a marcariam para toda a sua vida. O alarme soou avisando que iria iniciar os micro-saltos. Lentamente ela levantou-se, colocou Nino sobre a cama e caminhou para a cabine de comando a fim de executar pessoalmente os saltos. Algumas horas depois Mona chegou ao portal que a levaria para longe do inferno. Mas ela sabia que voltaria. Uma parte dela estava presa a Vega.
Antes de partir de Vega mona envolveu o corpo de Nino em uma pequena mortalha e o lançou no espaço. Sentia o coração duro e frio. Finalmente executou o salto para Procyon e de lá para Fidis. Tudo lhe parecia sem sentido, tinha a clara noção de que havia perdido o melhor que havia dentro de si. Olhou-se no espelho e não viu mais a Mona que havia saído da Escola de paleo-alienismo de Lucyen. Esta havia morrido no inferno. Ao entrar na atmosfera de Fidis ela cedeu ao cansaço e deixou a nave se chocar violentamente no espaço-porto. Acordou dias depois na casa de Malman.

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Ao terminar seu relato Mona virou-se. Lágrimas escorriam por seu rosto. Soluços a sacudiam e faziam seu corpo magro dobrar-se em dois. Sem querer foi aos poucos escorregando pela parede e deitou-se no chão duro e ali ficou, chorando. Gorgéa a olhava e com sua voz suave tentava dar àquela moça, àquela criança que já havia sofrido tanto, um pouco de alento. Juntas choraram todas as dores que haviam sofrido.

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