segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Natal


Luzes brilham por toda a cidade. Pelas janelas dos apartamentos o brilho intermitente das árvores de natal despeja alegria e felicidade pela noite. O som da musica, dos risos e das conversas em voz alta lembra que famílias estão reunidas em volta da mesa, festejando. Independente de qual religião seguem, todos estão comemorando e se unindo em preces, rezas, ou simplesmente abraços.

Na rua João caminha sozinho e sem rumo. Sozinho na cidade ele sente falta de sua família e das festas de natal que passava entre irmãos, primos e tios. Caminha devagar, sem rumo e sem pressa de voltar para seu pequeno apartamento. Não olha para onde vai, apenas segue caminhando, um pé diante do outro. Caminhando e seguindo a rua vazia, ouvindo os risos e os cânticos de natal, querendo estar sentado em volta de uma mesa, brindando com a taça cheia de vinho.

Se notar seus pés o levam até uma pequena loja de conveniências que ainda está aberta. Dentro alguns homens bebem cerveja e assistem na TV o especial de fim de ano. Estão em um silêncio soturno e triste. Todos eles querendo estar distante dali. Todos, como ele, sonhando com risos de criança e com presentes em baixo de uma árvore de natal.

No balcão uma menina atende aos homens, contando as horas para fechar e correr para casa. O abraço de sua pequenina a espera. João senta-se num tamborete em frente ao balcão e pede um café. Por ali fica sem ter para onde ir. Deixando o tempo passar. Vendo a noite de natal por uma tela de TV.

Aos poucos os homens vão se levantando e partindo. Cada um que sai deseja a todos um feliz natal e dá um beijinho na jovem, que sorri encabulada e deseja que tenham uma ótima noite. Já era tarde. O bar já vai fechar. João reluta em pagar a conta e voltar para a noite fria e solitária até que uma voz gentil lhe pergunta.

- Oi, você já terminou?
- Ah, desculpe. Terminei sim. Quanto eu te devo?
- São só dois reais. É quase meia-noite. Você não vai para casa festejar?
- Não sei. Acho que vou andar mais um pouco por aí.

Uma voz grave pergunta às suas costas.

- Você não tem para onde ir, filho?

João se vira e fala para o homem que estava atrás dele, o dono da loja.

- Não. Minha família mora longe e eu não pude viajar para lá. E não quero ficar em casa sozinho. Vou andar um pouco.

A menina vira-se para o homem mais velho e diz.


- Pai, ele não pode passar conosco?
- Sim. Venha conosco, filho. Ninguém deveria ter que passar o natal sozinho.


Agradecendo muito João seguiu Alceu e Elvira até a pequena casa onde moravam. Sentaram-se em volta de uma mesa cambaia e comeram e beberam, riram e se divertiram. No lugar do grande Peru de Natal que sua mãe fazia para sua família, havia um pequeno frango. No lugar de vinhos, cidra e água. No lugar de muitas luzes e gente apenas um lampião no centro da mesa e Alceu, Elvira e a pequenina Julia, que passou a noite sentada em seu colo, até dormir aconchegada em seu peito. No chão a cachorrinha Banana brincava e abanava o rabinho peludo, pedindo um ossinho do seu frango.


João olhou para aquelas pessoas e se sentiu tão feliz quanto seria possível. Era natal e no natal ninguém deveria ficar sozinho.



Feliz Natal e Próspero Ano Novo.

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